O tempo do Natal sempre nos envolve com uma alegria particular. Na tradição cristã, não se limita a um único dia, 25 de dezembro, mas se estende por oito dias, de 25 de dezembro a 1º de janeiro, na chamada Oitava de Natal. Assim, esses dias se transformam em um período capaz de iluminar todo o nosso ano.

É, ainda, nas celebrações da Oitava de Natal que ocorre a Festa da Sagrada Família, no primeiro domingo após 25 de dezembro, que neste ano cairá no dia 28. Em 1º de janeiro, último dia da Oitava, ocorre a Solenidade da Santa Mãe de Deus, quando recordamos também a imposição do nome de Jesus, que significa “Deus salvador”.

Entre as expressões mais belas desse período, que, aliás, inicia com o Advento, está o presépio, representação que há séculos ajuda os fiéis a contemplarem a ternura de Deus que vem habitar entre nós. A origem da tradição de preparar o presépio remonta ao ano de 1223, quando São Francisco de Assis montou o primeiro na cidade de Greccio, na Itália. Seu desejo era simples e profundo: permitir que as pessoas percebessem concretamente as dificuldades enfrentadas por Maria, José e do próprio Menino Deus que, ao nascer em um estábulo, foi colocado numa manjedoura entre animais. A cena causou admiração e encantamento, tornando-se um símbolo que atravessou os séculos e permanece vivo em nossos lares e comunidades.

Ao contemplarmos um presépio, encontramos a síntese de todo o mistério do Natal. Ali, está o nascimento de Jesus em Belém, a presença silenciosa de Maria e José, o anúncio dos anjos, que disse aos pastores: “hoje, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). Ao ouvirem tal anúncio, os pastores correram para acolher o Salvador.

É este mesmo presépio que é ressignificado novamente em 6 de janeiro, quando celebramos a Epifania, ou seja, quando a manifestação do Senhor é anunciada a todos os povos. Os reis magos, vindos de terras distantes, representam a humanidade inteira que se abre à luz divina. Por isso, também eles ocupam lugar de destaque em nossos presépios.

O ciclo natalino, ou o Tempo Litúrgico do Natal, que inicia com o fim do Advento em 25 de dezembro e passa pela Oitava do Natal, encerra com a Festa do Batismo do Senhor. Ela nos recorda que o nascimento de Jesus — como destaca o evangelista João: “a Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14) — se conecta ao nosso próprio nascimento como filhos e filhas de Deus pelo Sacramento do Batismo. Lembremo-nos das palavras que nos são ditas nesse momento: “Tu és o meu Filho amado; em ti está o meu agrado” (Mc 1,11).

Observemos como o presépio nos educa, pois passamos da escuta para a contemplação. É como nos explica o Papa Bento XVI, no documento Verbum Domini: “A Palavra eterna se fez pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Se fez criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então, a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz. Agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré” (Bento XVI, Verbum Domini, 12).

O Papa Francisco nos incentivou à contemplação do presépio como caminho espiritual, tanto para viver o Natal quanto para iluminar toda a nossa vida cristã. Ele mesmo nos escreveu que “ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha se torna a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como ‘o pão vivo, o que desceu do céu’ (Jo 6,51). Uma simbologia que já Santo Agostinho tinha entrevisto quando escreveu: ‘Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento’. Na realidade, o presépio inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à nossa vida diária” (Papa Francisco, Carta Apostólica Admirabile Signum, sobre o significado e valor do presépio, nº 2). Portanto, contemplando o presépio — o Menino sobre as palhas, Deus na humildade e simplicidade de uma criança — somos educados a acolher Deus que se faz sacramento em cada Eucaristia, na simplicidade e fragilidade de um pedaço de pão.

Encerramento do Ano Santo

Neste ano de 2025, em que celebramos o Ano Santo da Esperança — 2025 anos do nascimento de nosso Senhor e Salvador — nossa Diocese de Montenegro, em comunhão com todas as dioceses do mundo, celebrará o encerramento da grande graça que foi este ano jubilar. No dia 28 de dezembro, Festa da Sagrada Família, portanto, vamos juntos dizer “muito obrigado” pela graça deste Ano Santo.

Às 17h, estaremos reunidos na Catedral de São João Batista com cantos, depoimentos e partilhas das experiências deste Ano Jubilar. A celebração da Eucaristia será às 18h e, ao final da Missa, todos os fiéis, “peregrinos de esperança”, sairão da Igreja com suas velas acesas, proclamando Cristo, que é a luz que ilumina a nossa vida e a de todos os povos. Nesse ato, nossa vida de batizados será simbolizada na luz que reflete a Luz que é Cristo, ou seja, a esperança que ilumina todos os nossos dias.

Que o Natal continue a tocar nossos corações e a nos tornar testemunhas da grande luz anunciada pelo profeta Isaías: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz” (Is 9,1). E que 2026 não seja apenas uma mudança de calendário, mas um verdadeiro tempo de graça, iniciado com os olhos e o coração voltados para Cristo, Salvador do mundo, que contemplamos na simplicidade de um presépio.

+ Dom Carlos Romulo, Bispo Diocesano de Montenegro