Diocese

“Moldado pelo Senhor para servir com alegria”. Entrevista com Monsenhor Carlos Romulo

A partir de domingo, 4 de junho de 2017, a Diocese de Montenegro contará com o bispo coadjutor Dom Carlos Romulo Gonçalves e Silva, que estará ao lado de Dom Paulo De Conto para conduzir o pastoreio do povo da Diocese da Alegria. A Assessoria de Comunicação da Diocese de Montenegro fez uma entrevista com o futuro bispo de nossa Igreja particular, na qual ele conta os principais aspectos de sua trajetória. Conheça um pouco mais de Dom Carlos Romulo, nosso bispo coadjutor. 12119118_1141587919202119_6050794875975661786_nEle nasceu em Piratini-RS, em 24 de janeiro de 1969. Filho de pais agricultores, o jovem Carlos Romulo Gonçalves e Silva cresceu no interior, vendo os pais trabalhando na lavoura. Fruto de uma família simples, é o mais velho de três filhos homens. Seu irmão “do meio”, Cláudio Roberto, é casado com a Loiva e tem dois filhos: o Tiago e o Gustavo. Seu outro irmão, o mais novo, chama-se Alexandre e é casado com a Eliane, com quem tem um filho chamado Alessandro. “Minhas irmãs são as minhas cunhadas, somos bastante próximos”, conta Monsenhor Carlos. Hoje seus pais saíram do interior e moram na cidade de Piratini. Participam da comunidade Bom Samaritano, pertencente à Paróquia Nossa Senhora da Conceição, onde atualmente está o Pe. Ademar Stroher, missionário da Diocese de Montenegro. Formação inicial Monsenhor Carlos Romulo estudou até a 4ª série do Ensino Fundamental em uma escola que ficava próxima à residência da família. Parou um ano de estudar, pois não havia escola próxima que desse sequência aos estudos. Depois, descobriu uma escola mais distante, que exigia uma caminhada de sete quilômetros para cursar o 5º ano do primeiro grau. “Eu ia todos os dias, saindo de madrugada, sozinho, porque nenhum dos vizinhos quis estudar naquela escola”. Depois, foi morar na cidade. Durante a semana, com a idade de 13 anos, ia para Piratini estudar e morava com sua avó. Sexta à tarde, voltava para fora, ficava com os pais e domingo ia para a cidade novamente. Assim cursou a 6ª, 7ª e 8ª série. Nesse período, iniciou também a formação religiosa. “Lá fora, no interior, não tínhamos comunidade. A vida religiosa com meus pais consistia em ir a missas em memória de falecidos, o batizado dos filhos, e outras cerimônias para as quais eram convidados. Sempre foram católicos, mas não tinham tradição de participar regularmente da Igreja, porque não tinham comunidade. Inclusive depois, quando eu já estava no seminário e ia às missas, meus pais me perguntavam: ‘o que vais fazer na missa? Fostes convidado a ir à missa?’. Depois que eles foram para a cidade, começaram a participar por eles mesmos. Nunca pedi nada nesse sentido, nem para meus pais, nem para meus irmãos, mesmo depois que eu já estava no seminário. Sempre os deixei trilhar o caminho próprio. E eles o fizeram. O pai e a mãe fizeram a 1ª Comunhão, Crisma e casaram no religioso depois de adultos, porque tinham se casado somente pelo civil. Hoje participam do ECC em Piratini. Assim foi também com meus irmãos”, relata. O chamado vocacional “Quando estava na 7ª série, estudando em Piratini, na Escola Estadual Rui Ramos, uma professora do Ensino Religioso, mas que também trabalhava na Biblioteca, uma grande líder na paróquia, já falecida há uns 4 anos, um dia me convidou: ‘Carlos Romulo, tu não gostaria de fazer um encontro vocacional, ir para o seminário, ser padre?’. Eu nunca tinha pensado em nada disso. Nunca tinha me passado pela cabeça essa ideia. Mas naquele momento, respondi prontamente: ‘eu quero isso’. Foi algo que surgiu mesmo de uma hora para outra, tanto que eu voltava para casa com um colega e disse para ele que estava pensando em ir para o seminário. Foi o ano de 1983, o ano vocacional, e então comecei todo o processo”, recorda o Monsenhor. Ele iniciou participando dos encontros vocacionais, retiros e da catequese de 1ª Eucaristia. Fez a Comunhão naquele mesmo ano e continuou se preparando até 1985, quando fez a Crisma. “Foi então que, em 4 de março de 1985, ingressei no Seminário menor São Francisco de Paula, de Pelotas. Formávamos um grupo de 24 seminaristas. Lembro que eu tinha muita vontade de ir para o seminário e fui sozinho. Peguei minhas coisas, entrei no ônibus, desci na rodoviária de Pelotas, tomei um circular e cheguei no seminário. Fui recebido na porta da casa de formação com minhas sacolas. Eu tinha 16 anos”. Um filho seminarista? Monsenhor Carlos lembra que foi um pouco difícil apresentar a ideia de ser seminarista e padre aos pais. Como era o filho mais velho, havia a expectativa de que ele estudasse. “Eu não sabia nem como dizer. Então, as irmãs e o padre da época me ajudaram, começaram a se aproximar, visitavam a nossa casa. O pai e a mãe nunca disseram nada contra, mas achavam que era algo que eu perderia tempo na minha vida e que não me levaria a lugar nenhum, coisa de jovem e que iria passar. Mas depois começaram a conhecer os seminaristas, e o convívio com a vida no seminário mostrou a eles como era esse caminho. Depois da desconfiança inicial, passaram a ser os grandes defensores da minha vocação, até demais (risos)”, conta. O jovem seminarista Carlos Romulo cursou três anos no seminário menor com alegria. No entanto, teve alguns questionamentos durante a Filosofia, porque na época os seminaristas moravam em casas de família, chamadas de “casas de inserção”. “Realmente abracei a Filosofia. E naquele período fiquei muito próximo aos freis capuchinhos. Eu vibrava muito com a ideia franciscana e eles me convidavam a fazer o noviciado com eles. Mas quando chegou o Pe. Edson Damian como formador (hoje Dom Edson Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira), me deparei com um padre muito dinâmico, jovem, vibrante. Tudo o que eu sonhava ser encontrei nele, no seu dinamismo e alegria. Pe. Edson me ajudou muito. Eu participava dos encontros da fraternidade sacerdotal e tudo aquilo foi me firmando na ideia de permanecer na Diocese, na intenção de ajudar na realidade difícil que eu percebia”, recorda. Teologia, mística, oração e espiritualidade 14567982_1419354771425431_1858738133186844450_n Monsenhor Carlos com o Papa João Paulo II Concluídos os três anos de Filosofia, Carlos Romulo ingressou na graduação em Teologia, voltando para o Seminário, no Instituto de Teologia Paulo VI. “Lá o primeiro ano foi um pouco difícil, a adaptação de passar da Filosofia para a Teologia, voltar para o ritmo de seminário… Mas no final do ano encontrei um monge que foi fazer uns ícones e pinturas na capela do seminário, Dom Roberval Monteiro da Silva, que é do Mosteiro da Ressurreição. A experiência da vida monástica e beneditina não me atraiu a ser monge beneditino, mas me atraiu a viver aquela mística da Palavra, da espiritualidade. Lembro que era período de férias da faculdade. Eu chegava na capela e encontrava Dom Roberval entre vários potes de tinta e pincéis, uma vela acesa, chimarrão e uma bíblia aberta. Ali ele estava rezando, tomando chimarrão e pintando. Aquela imagem para mim falava tudo. Então ele me disse: ‘eu tenho essa capela toda para fazer. Mas meu Prior me disse que se eu não cultivar a espiritualidade, não conseguirei fazer este trabalho’. Eu também ia muito ao mosteiro, onde fiz vários retiros e fiz muitos amigos. O período da Teologia foi marcado por uma mística muito forte, de estudo e oração”, define. Ordenação presbiteral e primeiras missões Terminada a formação, o então seminarista Carlos Romulo foi ordenado diácono no dia 4 de março de 1994 e ordenado presbítero no dia 8 de dezembro daquele mesmo ano. Sua primeira missão, já em 1995, foi acompanhar a formação no Seminário menor de Pelotas. Paralelo a isso, foi nomeado como vigário paroquial na Paróquia Santa Terezinha, de Pelotas. Em 1996, Pe. Carlos criou, junto com a Diocese, o Seminário Propedêutico, sendo o primeiro formador naquela casa, acolhendo na época três jovens, já com vocação adulta. Desses três, hoje dois são padres na Arquidiocese de Pelotas. O trabalho no seminário e na paróquia foi desenvolvido até o ano de 2002. Estudo de Teologia Espiritual em Roma Desde a ordenação de Pe. Carlos Rômulo, Dom Jayme Chemello e os formadores da então Diocese de Pelotas sempre falavam da possibilidade do jovem padre estudar em Roma. “Fui encaminhado pelo meu bispo a estudar espiritualidade em Roma. Minha vontade era de estudar patrística, os Santos Padres. Mas Dom Jayme me pediu para estudar espiritualidade, aplicada ao seminário e à catequese de Crisma. Fui estudar na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma em agosto de 2002, onde fiquei dois anos, fazendo curso de Teologia Espiritual. Foi uma experiência muito rica, pois acabei estudando muitas disciplinas patrísticas dentro do curso de Espiritualidade. Fiz meu trabalho e concluí o curso. Ao voltar para cá, em 2004, novamente no Propedêutico, Dom Jayme me comunicou a vontade de fazer uma visita pastoral e missionária na Diocese, e que gostaria da minha ajuda. Ajudei-o a organizar esta visita, que seria realizada em três anos. Quando chegou a Assembleia de Pastoral, Dom Jayme faz o seguinte anúncio: ‘teremos Santas Missões Populares em toda a Diocese e o coordenador será o Pe. Carlos Romulo’. Daí percebi que seria mais do que uma visita pastoral e que eu seria o coordenador das missões. Vivemos três anos muito intensos, fazendo escola missionária em toda Diocese, paróquia por paróquia, visitando todas as comunidades. Foi muito rico, um grande mutirão. No primeiro semestre fazíamos missões e no segundo semestre visita pastoral com o bispo”, explica. Uma vida dentro do seminário Depois das missões, Pe. Carlos começou a trabalhar como diretor espiritual no seminário. Em 2008, estava com 39 anos e com quase 15 anos de sacerdócio. Então, disse a Dom Jayme: “quando vou trabalhar em uma paróquia, como pároco?. Ele se deu conta de que eu estava com quase 40 anos e levou a questão ao Conselho de Presbíteros. Fui enviado para ser pároco na Paróquia de Canguçu, que tem 61 comunidades. Éramos entre três padres para dar conta. Foi uma experiência riquíssima. Assumi em março de 2009 e fiquei até fevereiro de 2011”. No entanto, durante este período, aconteceu a troca de bispo (2009) na Diocese de Pelotas. Dom Jayme tornou-se emérito e assumiu Dom Jacinto Bergmann. Já em 2010 o novo bispo começou a reconfigurar a Diocese a partir do que pensava em fazer. Nas transferências daquele ano, colocou Pe. Carlos Romulo como reitor do Seminário e diretor do Instituto de Teologia, além de pároco de uma paróquia em Pelotas. “Foi um ano intenso de atividades. Foi bem desafiador num primeiro momento, mas uma experiência muito rica que durou seis anos. Somando tudo, estive 18 anos à frente do seminário”. Vigário geral da Arquidiocese de Pelotas No final do ano passado (2016), em dezembro, Dom Jacinto fez o que ele chama de “remanejamento de forças presbiterais”, ou seja, as conhecidas transferências. E chamou Pe. Carlos para ser vigário geral e articulador da Pastoral, além do continuar com a direção do Instituto de Teologia Paulo VI. “Assumi minhas novas funções no dia 19 de fevereiro. Saí do seminário e fui morar com Dom Jacinto. Ainda não cheguei a arrumar todas as coisas. No dia 19 tivemos missa solene na Catedral, com grande festa, alegria, posse como vigário geral. 15 dias depois, recebi o chamado da Igreja para ser bispo coadjutor na Diocese de Montenegro”, conta. A nomeação 14993518_1448563388504569_8953725090897104799_n No dia da nomeação, Monsenhor Carlos foi fazer um passeio de bicicleta e nem esperava pela grande notícia. Monsenhor Carlos conta como foi o dia em que recebeu a nomeação que novamente mudaria sua vida. “Era uma segunda-feira e começou assim: eu gosto de andar de bicicleta, então convidei um padre amigo e passamos o dia fora. À tardinha voltamos, cheguei em casa às 17h20min. Dom Jacinto me chamou e disse: ‘preciso falar contigo’. Eu não pude falar naquele momento, pois tinha missa às 18h e depois reunião da Pastoral da Educação. Marcamos para conversar à noite, depois do Jornal Nacional. Ele iniciou a conversa dizendo que aquela data eu não iria mais esquecer. Daí pensei: ‘Meu Deus, o que eu fiz?’ (risos). Então ele me disse: ‘o senhor está sendo nomeado como bispo coadjutor da Diocese de Montenegro’. Assim recebi a notícia. O Núncio havia telefonado para ele naquele dia para dar a notícia. O que consegui pensar não foi na palavra ‘bispo’, mas na palavra ‘coadjutor’, no bom sentido. É uma notícia que logo assusta, mas vir para Montenegro e começar a tomar conhecimento do que terei pela frente me ajudou muito. Para mim as coisas têm que ser reais. No outro dia ligamos para a Nunciatura, pois Dom Jacinto havia combinado com o Núncio que a resposta seria dada no dia seguinte. Daí começou o período de sigilo e de amadurecimento. Eu só podia conversar sobre o assunto com Dom Paulo De Conto e com Dom Jacinto. Comecei a conversar com Dom Paulo, combinamos algumas coisas, começamos a pensar nas datas. E a partir do dia 22 de março a notícia se tornou pública. Agora estamos aqui, nesta caminhada”, esclarece. Lema presbiteral e episcopal brasao-f-branco Brasão episcopal de Dom Carlos O lema sacerdotal de Monsenhor Carlos é “Como barro nas mãos do oleiro, assim sereis vós nas minhas mãos” (Je 18,6). “É minha entrega total nas mãos de Deus”, explica. Já a escolha do lema da ordenação episcopal se deu agora, afinal, diz ele, “eu não pensei em ser bispo. Eu escolhi ser padre, essa foi a escolha que fiz. Não preciso de mais nada além disso, posso ser feliz toda a vida assim. Até porque sei que ser bispo é uma missão exigente para toda a vida também. Mas a Igreja é quem sabe, não sou eu que devo escolher. Só tenho que dizer sim ao Papa. Por isso tenho mais tranquilidade. Não fiz um concurso para ser bispo, não coloquei meu nome à disposição para o cargo. A Igreja é quem escolhe e o último a saber é o escolhido”. Então, para escolher o lema de ordenação episcopal, lhe veio à mente o nome de “Diocese da Alegria”, tão falado por Dom Paulo. Também lembrou-se de uma crônica do Frei Lucas Moreira Neves, hoje Dom Lucas, tirada do livro “Crônicas do Reino de Deus”. A que Monsenhor Carlos se refere se chama “Eu te batizo, Letícia”, que fala sobre o batismo de uma menina chamada Letícia (Laetitia), que significa alegria. “Só que em cima desse batismo, Dom Lucas fez uma crônica sobre a alegria cristã. No texto, ele fala de Santa Teresinha do Menino Jesus, que teve, em um momento da vida, uma certa tentação pela melancolia e pela tristeza. E no Carmelo, Santa Teresinha acompanhou uma monga no leito de morte, que lhe escreveu um bilhete dizendo: ‘Servite domino in laetitia’, ou seja, é com alegria que se serve ao Senhor. Dom Lucas colocou essa frase na crônica e eu a escolhi como lema (Servi ao Senhor com alegria. Sl 99,2). Achei bonito, pois é com alegria que devemos servir. Eu vim para a Diocese da Alegria, mas minha missão é servir. Agora tenho que aprender a ser bispo com a Diocese de Montenegro. Estou muito contente”. Por Graziela Wolfart, assessora de Comunicação da Diocese de Montenegro. Fotos: arquivo pessoal.