Desde os escritos do Papa Francisco, um novo conceito tem orbitado os ambientes eclesiais: a sinodalidade. Mas, o que, na prática, há de ser isso? Segundo o próprio Francisco, sinodalidade é caminhar juntos. Logo, na prática da vida da Igreja, significa ir ao encontro e juntos construir caminhos pelos quais devem passar nossas diretrizes de evangelização. Nesse ano de 2025, a Coordenação de Pastoral da Diocese, juntamente com o bispo dioesano, Dom Carlos Romulo, propuseram uma nova forma de conduzir a assembleia diocesana de pastoral. Normalmente, representantes de toda a diocese eram reunidos num local para deliberar sobre quais devem ser os rumos da ação evangelizadora em toda a Diocese. Mas, em 2025, o movimento foi inverso, levando a Coordenação de Pastoral diretamente para as paróquias para ouvir as comunidades e compreender como elas vêm implementando seus planos de pastoral.

Trabalhos em grupos na Paróquia Santo Antônio de Vendinha

Um plano de pastoral, por excelência, deve ser construído de forma colegiada, pois é ele que orientará, por exemplo, quais devem ser as prioridades pastorais. Se, supostamente, a catequese passa a ser considerado como central num plano de pastoral, todas as demais pastorais, e não somente a Iniciação à Vida Cristã, devem alimentar e estimular a catequese, talvez, até promovendo encontros catequéticos dentro de seus grupos e pastorais. Os atuais planos de pastoral das paróquias foram construídos de forma particular em 2022. Foi um trabalho realizado em cada paróquia que, segundo a sua realidade, apontou quais são as prioridades. Em 2023, a assembléia diocesana deliberou que as diretrizes devem ser seguidas e, agora em 2025, a Coordenação Diocesana de Pastoral foi diretamente para as paróquias acompanhar a execução de seus planos e ajudar no processo de avaliação.

Assembleia realizada em São Vendelino

O padre Jonas Gomes, coordenador de Pastoral, observa que foram 20 assembléias realizadas entre outubro e novembro. Das atuais cinco áreas pastorais, duas delas resolveram reunir todas as paróquias e fazer uma só assembléia. Já as três outras áreas optaram por realizar uma assembleia em cada paróquia. “Foi um esforço muito grande, nos deslocamos para todos esses 20 lugares, mas foi uma experiência muito rica, pois pudemos ver desde dentro a realidade pastoral de nossas paróquias”, observa. Mas, se engana quem pensa que a Coordenação Diocesana foi agir como fiscal. Pelo contrário, segundo o padre Jonas, foi um momento de intensa escuta. “Todos esse processo vai nos ajudar a iniciar uma reflexão sobre as novas diretrizes pastorais para a Igreja no Brasil, que devem chegar no ano que vem”, diz. Assim, a partir dessas novas diretrizes, a Diocese de Montenegro espera construir um novo plano de pastoral caminhando junto, lado a lado com a realidade e necessidades de cada uma das suas 30 paróquias.

Protagonismo leigo

Dom Carlos Romulo, bispo diocesano, costuma percorrer as paróquias em visitas pastorais, celebrações e crismas. Mas, desta vez, sua passagem teve foco no trabalho junto às comunidades a partir de seus planos de pastoral. “Foi uma experiência muito especial, oportunidade de encontro, de formação, de avaliação e uma experiência de sinodalidade. Como bispo e como coordenação de pastoral, podemos nos aproximar do cotidiano da ação evangelizadora da comunidade paroquial, com as comunidades, pastorais e movimentos”, observa Dom Carlos. Para o bispo, é na participação das lideranças de cada comunidade que se revela o sentido concreto de sinodalidade. “As lideranças compreenderam o sentido das Assembleias Paroquiais e, com isso, houve grande alegria e comprometimento com o planejamento”, completa.

Podemos, assim, compreender que o protagonismo leigo é fundamental para a realização das assembleias e construção dos planos. Pensando nisso, como coordenador de Pastoral, o padre Jonas Gomes decidiu partilhar o trabalho da coordenação com uma comissão formada por três leigos: Sérgio Schons, da Paróquia Catedral São João Batista; Kelling Raquel Müller, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, de Teutônia; e Evanice Luiza Diedrich Schroeder, da Paróquia Santo Antônio de Estrela. Foram eles que também trabalharam para viabilizar cada um dos encontros. “Em geral, fomos muito bem acolhidos. No início, olhares desconfiados, expressões mais fechadas tentando entender o que aconteceria. No decorrer da assembleia, percebia que as pessoas, à medida que ouviam e podiam ser ouvidas, começavam a sentir-se mais à vontade. Depois da experiência de avaliar, em grupos, os planos pastorais de suas paróquias, era nítido o sentimento de pertença despertado em cada um e cada uma”, observa Evanice.

Assembleia realizada em Tupandi

O que Evanice aponta se observa na fala de quem participou das assembleias. É o caso de Maria de Fátima, da Paróquia São José de Taquari. “Foi muito importante refletirmos e lembrarmos num modelo de partilhas de conhecimentos. Foi realmente um trabalho sinodal”, avalia.

Maria de Fátima

O casal Rodrigo e Natália, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, de São Sebastião do Caí, foi além: “foi muito produtivo, pois trouxe a nós a clareza sobre o que é viver em comunidade”.

Rodrigo e Natália

E num ano em que a esperança foi tema central do Jubileu 2025, observar a participação de jovens nas assembleias alegra e enche de esperança ao ver que estão realmente preocupados com seu papel na comunidade e, também, pensando no futuro de sua comunidade. “Nunca tinha participado de uma assembleia, foi muito legal ver que tu podes dar tua opinião. A gente sente que nosso movimento, nosso grupo têm relevância na vida pastoral da Paróquia”, diz Lucas Pezzi, do CLJ da Catedral. Para ele, o encontro de gerações também fez crescer. “É bom ver que outras pessoas passam por situações parecidas com as nossas em suas pastorais. Precisamos estar atentos a essas coisas para, como paróquia, podermos crescer e construir um futuro melhor”.

Lucas Pezzi