1ª Leitura: Êxodo 34,4b-6.8-9; Salmo (Dn 3,52.53-54.55.56); 2ª Leitura: 2Corintios 13,11-13; Evangelho: João 3,16-18.
Neste Domingo, Dia do Senhor celebramos a Solenidade da Santíssima Trindade e somos chamados a contemplar a revelação do Mistério de Deus, que é Amor. Vamos contemplar o Mistério, como nos diz o Apóstolo Paulo, “às apalpadelas” (cf At 17,27), mas cheios de confiança porque, pelo Batismo, fomos “enxertados” em Cristo para viver a ‘vida nova’ que brota da Ressurreição e do sopro do Espírito Santo.
A conclusão da Segunda Carta de Paulo aos Coríntios, nos aproxima de uma primeira compreensão mistério trinitário: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todas vós” (2Cor 13,13). É uma saudação que entrou para a nossa liturgia, que após o sinal da Cruz, nos convida a contemplar o Mistério de Deus com uma fórmula trinitária.
A saudação começa com a “a graça do Senhor Jesus Cristo”. O encontro com o Cristo é uma graça que transforma a existência do ser humano. O Evangelho revela o Mistério da Encarnação, da Morte e da Ressurreição do Senhor. Encontrar o Cristo é contemplar é contemplar o Rosto de Deus, “quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Encontrar o Cristo é salvação, é um Querigma, porque contemplar o Seu rosto, o Seu olhar, é acolher o amor de Deus: “Deus tanto amou o mundo, que entregou seu Filho único, para que quem crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). O amor de Deus não é algo genérico, abstrato, impessoal, mas é um amor entranhado de misericórdia, de paixão que nos redime e salva: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou para todos nós, como não nos vai dar de presente todo o resto com Ele?” (Rm 8,32). Na Primeira Carta de João esta entrega de amor é explicitada: “Deus demonstrou o amor que tem por nós enviando ao mundo o seu Filho único, para que vivamos graças a Ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas ele nos amou e enviou seu Filho para expiar nossos pecados” (1Jo 4,9-10).
Portanto, acolher Jesus Cristo é a graça que nos conduz ao amor de Deus e nos coloca na dinâmica eterna deste Amor, que é “a comunhão do Espírito Santo”. Por isso, o Ressuscitado revela aos Apóstolos que: “Como o Pai me enviou, eu vos envio. Dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; a quem os mantiverdes, ficarão mantidos’” (Jo 20,21-23). A nossa missão é continuar a missão de Cristo, no sopro do Espírito Santo.
Celebrar a Santíssima Trindade é fazer memória do que é essencial em nossa profissão de fé: recordar que, pelo Batismo fomos enxertados em Cristo e, por isso, mergulhados na Trindade Santa; recordar que a Eucaristia é o memorial da paixão, morte e ressurreição do Senhor, sacramento de sua entrega por nós: “Isto é o meu corpo entregue por vós…Isto é o meu sangue derramado por vós”; recordar que somos ungidos pelo Espírito Santo e, enviados como testemunhas do amor de Deus, na doação, no servir, no ‘lava-pés’ uns aos outros. Celebrar o Mistério da Santíssima Trindade é proclamar que o amor de Deus deve configurar nosso ser, nas relações familiares, comunitárias e sociais. O Deus bíblico é um Deus que ama, ‘com entranhas de misericórdia’ e nos recorda sempre, nosso DNA original: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26).
Dom Carlos Romulo – Bispo Diocesano de Montenegro