1ª Leitura: Apocalipse 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; Salmo 44; 2ª Leitura: 1 Coríntios 15,20-27a; Evangelho: Lucas 1,39-56.
Chegamos à Solenidade da Assunção de Nossa Senhora e te convidamos a contemplar a esperança que brota da Ressurreição do Senhor. As Orações das Missas da Solenidade da Assunção nos ajudam a entrar no mistério que a Liturgia da Palavra quer nos revelar:
“Ó Deus, considerando a humildade da Virgem Maria, vós lhe concedestes a graça e a honra de ser a Mãe do vosso Filho unigênito, e a coroaste hoje de glória e esplendor; concedei, por suas preces, que, salvos pelo mistério da redenção, sejamos elevados à vossa glória” (Missa vespertina).
“Ó Deus eterno e todo poderoso, que elevastes à glória do céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria, Mãe do vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos de sua glória” (Missa do dia).
Estas orações nos fazem contemplar o futuro que Deus prepara para a Igreja já no agir da Virgem Maria, e a pedir a graça necessária para a nossa caminhada de fé: “salvos pelo mistério da redenção, sejamos elevados à vossa glória”; e a “viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos de sua glória”.
Gostaria de destacar uma palavra presente no início do evangelho deste domingo, que é a ação que brota a partir do sim: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Este ‘sim’ provoca a dinâmica de Deus em nossa vida, como provocou na vida de Maria: “E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá” (Lc 2,39). Este ‘levantando-se Maria’ (αναστασα δε μαριαμ) revela a atitude fundamental do agir daqueles que escutam a Palavra e a acolhem com disposição. A ‘Assunção’ começa historicamente no discipulado daqueles que escutam o Senhor e passam a caminhar guiados pela Palavra, como nos diz na oração, “viver atentos às coisas do alto”.
A Palavra que gerou toda a novidade na vida de Maria é a mesma Palavra pronunciada pelo Senhor que revela o Reino de Deus no meio de nós, tanto nas curas como no chamado ao discipulado. Vemos isso na cura da sogra de Pedro: “E, inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou. E ela, levantando-se (αναστασα)logo, servia-os” (Lc 4,39); na cura do paralítico: “Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), te digo: Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa. E, levantando-se (αναστας) logo diante deles, e tomando a cama em que estava deitado, foi para sua casa, glorificando a Deus” (Lc 5,24-25). Encontramos também no chamado de Mateus: “E, depois disto, saiu, e viu um publicano, chamado Levi, assentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me. E ele, deixando tudo, levantou-se (αναστας) e o seguiu” (Lc 5,27-28). O mesmo podemos constatar na conversão de Saulo: “E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se (και αναστας), foi batizado” (Atos 9,17-18). Estes exemplos nos revelam que a ‘assunção’, a ‘glória’, começa quando acolhemos a Palavra viva em nossa existência e nos deixamos conduzir e modelar pela força e pelo poder de Deus.
Portanto, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora é um chamado forte a abraçar com amor a nossa vida eclesial, a nossa comunidade. Pela força da Palavra de Deus nos tornamos homens e mulheres de fé. Pela fé Deus transforma nossa existência pelos sacramentos da iniciação à vida cristã, quando somos configuramos ao Cristo Servo e Senhor; pelos sacramentos de cura, quando somos resgatados para retomar o caminho do seguimento; e pelos sacramentos do serviço, quando somos enviados em missão, na família e na Igreja. Na Igreja descobrimos a alegria da comunhão, antecipação da glória da ‘comunhão dos santos’; na Igreja testemunhamos a vida nova da fraternidade; e na Igreja descobrimos os dons e carismas na vida de cada um e de cada uma. Por isso, neste domingo, também celebramos a vocação à Vida Religiosa. A alegria de tantos homens e mulheres que, desde a juventude, descobriram a alegria da consagração.
Para concluir, acolhamos ainda uma palavra de Santo Agostinho que nos ajuda a compreender a relação de Maria com a Igreja e nos anima a bem celebrarmos a Assunção de Nossa Senhora em nossa comunidade: “Santa Maria, feliz Maria! Contudo, a Igreja é maior que a Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é porção da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas membro do corpo total. Se ela pertence ao corpo total, logo, é maior o corpo que o membro. A cabeça é o Senhor; e o Cristo total, é a cabeça e o corpo. Que direi? Temos cabeça divina, temos Deus por cabeça!” (Dos Sermões de Santo Agostinho).
Feliz e abençoado domingo da Assunção de Nossa Senhora!
+ Dom Carlos Romulo – Bispo Diocesano de Montenegro