Leituras: Jeremias 17,5-8; Salmo 1; 1Corintios 15,12.16-20; Lucas 6,17.20-26
Chegamos ao Domingo – Dia do Senhor – que é sempre ‘Sacramento da Páscoa’ (São João Paulo II), ou seja, é sempre um convite a contemplarmos aquilo que somos chamados a ser, homens e mulheres novos em Cristo, recriado pelo Batismo.
A Liturgia da Palavra deste Domingo aponta para a esperança: Em quê, ou em quem, colocamos nossa esperança?
O Profeta Jeremias, escutando o Senhor e dando Voz a Palavra, diz: “Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força, na carne humana, enquanto se coração se afasta do Senhor” (Jr 17,5-6a); e acrescenta: “Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor” (Jr 17,7). O Salmo 1, como um cântico, responde: “Feliz é todo aquele que encontra seu prazer na Lei de Deus e a medita dia e noite sem cessar (cf. Sl 1, 1-4).
No Evangelho, Lucas nos educa a contemplar o Rosto de Deus, a Palavra que se fez carne: “Maria deu a luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Este é lugar onde o Filho de Deus encarnado, abriu os olhos neste mundo. Mas não para ali: o Filho de Deus percorre o caminho dos pecadores: “Enquanto todo o povo se fazia batizar, e Jesus, depois de batizado, estava em oração, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba e do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu filho amado, em ti eu me agrado’” (Lc3,23). Na Sinagoga de Nazaré, o Rosto de Deus, se torna Leitor, e realiza em sua Pessoa, a Palavra de Deus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar o Evangelho aos pobres” (Lc 4,18). Entre admiração e rejeição, surge esta expressão: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22b). No entanto, este Rosto de Deus, nos faz um convite, no desafio a Simão Pedro, como escutávamos no Domingo passado: “Avança para águas mais profundas e lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5,4). Se continuarmos lendo o Evangelho de Lucas, vamos ver como Jesus ‘desenha’ para os discípulos, o que significa ‘lançar as redes em águas mais profundas’: Jesus toca o leproso (cf. Lc 5,12-16); Jesus perdoa e cura o paralítico (cf. Lc 5,17-26); Vê com misericórdia e chama Levi, o cobrador de impostos (cf. Lc 5,27-32); Ensina o novo jejum (cf. Lc 5,33-39); revela o sentido profundo do Sábado (cf. Lc 6,1-11); Escolhe os Doze (cf. Lc 6,12-19).
O Evangelho deste Domingo é então o ensinamento daquilo que o Rosto de Deus, o Filho encarnado, nos ensina no caminho. Antes Ele havia dito, ‘avança para águas mais profundas’, pois Ele ‘desceu do Céu’ (a Encarnação) e desceu da montanha até a planície: “Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. E levantando os olhos para os seus discípulos, disse: ‘Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus’” (Lc 6,17-20).
Portanto, contemplar o Rosto do Filho, significa, olhar com seus olhos, ver a partir da misericórdia de seu coração: só assim vamos entender as bem aventuranças.
Como Igreja, somos chamados a escutar a Voz da Palavra; contemplar o Rosto da Palavra, para nos tornarmos, Casa da Palavra, professando nossa fé na Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor até que Ele venha. Nele, nós poderemos percorrer o Caminho da Palavra nos dias de hoje.
Oremos: Ó Deus que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós.
Que o Domingo sempre nos dê o sentido para vivermos nossa semana. Deus vos abençoe!
+Carlos Romulo Gonçalves e Silva
Bispo da Diocese de Montenegro