1ª Leitura: Atos dos Apóstolos 12,1-11; Salmo 33; 2ª Leitura: II Timóteo 4,6-8.17-18; Evangelho: Mateus 16,13-19.
Neste Domingo temos a graça de celebrar a Solenidade de dois Apóstolos que nos fazem tocar no Cristo e no nascimento da Igreja e nos ajudam hoje a dar o mesmo testemunho: “Concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes apóstolos que nos deram as primícias da fé” (Oração da Coleta).
Seguindo o convite que Santo Agostinho nos faz, vamos conhecer, a partir da Palavra de Deus, estes dois Apóstolos, para amar aquilo que os configurou a Cristo e ao Evangelho.
O Senhor encontra Pedro no trabalho, como pescador. O Evangelista Marcos destaca a prontidão para o seguimento: “Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Jesus disse-lhes: “Vinde após mim; eu vos farei pescadores de homens. Eles, no mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no” (Mc 1,16-18). Já Lucas destaca que este encontro se dá com Cristo ensinando às multidões: “Subiu a uma das barcas que era de Simão e pediu-lhe que a afastasse um pouco da terra; e, sentado, ensinava da barca o povo” (Lc 5,3). O Evangelista João aponta que, no encontro, Jesus já aponta a missão de Pedro: “André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que o tinham seguido. Foi ele, então, logo à procura de seu irmão e disse-lhe: Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo). Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)” (Jo 1,40-42). Ele se torna discípulo e caminha com Jesus em sua missão com profunda familiaridade: “Assim que saíram da sinagoga, dirigiram-se com Tiago e João à casa de Simão e André” (Mc 1,29). O decisivo desta caminhada está na profissão de fé que leva a acolher a missão a partir de uma pergunta fundamental de Cristo: “E vós, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,15-18). Outro momento crucial se dá nas três preguntas do Cristo Ressuscitado, onde Pedro fará a profissão de amor para poder apascentar o rebanho do Senhor: “Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais moço, cingias-te e andavas aonde querias. Mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Por estas palavras, ele indicava o gênero de morte com que haveria de glorificar a Deus. E, depois de assim ter falado, acrescentou: Segue-me!” (Jo 21,15-19). Esta trajetória colocará Pedro à frente da comunidade nascente abrindo novos caminhos para o anúncio do Evangelho: “Ao fim de uma grande discussão, Pedro levantou-se e lhes disse: Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós para que, da minha boca, os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem. Ora, Deus, que conhece os corações, testemunhou a seu respeito, dando-lhes o Espírito Santo, da mesma forma que a nós” (At 15, 7-8). No testemunho de Pedro, mesmo nos momentos de dificuldade, vemos a comunhão da Igreja na oração, como escutamos na primeira leitura deste domingo: “Vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender Pedro. Eram, então, os dias dos pães sem fermento. Mandou prendê-lo e lançou-o no cárcere, entregando-o à guarda de quatro grupos, de quatro soldados cada um, com a intenção de apresentá-lo ao povo depois da Páscoa. Pedro estava assim encerrado na prisão, mas a Igreja orava sem cessar por ele a Deus” (Atos 12,3-5).
Para falar do Apóstolo Paulo, tomamos o caminho que nos é traçado pela segunda leitura da liturgia da Festa que estamos celebrando. O Apóstolo se apresenta como aquele que está para realizar o supremo gesto de configuração a Cristo: “Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima” (II Tm 4,6). É o coroamento de uma fé professada e vivida na comunhão: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Paulo abriu horizontes para o anúncio do Evangelho, com sua incansável atividade missionária e criatividade pastoral, ao utilizar as Cartas para animar e fortalecer as comunidades por ele fundadas: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (II Tm 4,7). Combate que ele mesmo definiu: “Servi ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas e no meio das provações” (At 20, 19). Viveu sua missão de forma perseverante até completar a carreira: “Vós sabeis como não tenho negligenciado, como não tenho ocultado coisa alguma que vos podia ser útil. Preguei e vos instruí publicamente e dentro de vossas casas. Preguei aos judeus e aos gentios a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus” (At 20,20-21). Ensinando Timóteo, Paulo fala da fé que o anima, mesmo em meio aos desafios: “É este o motivo por que estou sofrendo assim, mas não me queixo, não. Sei em quem pus minha confiança, e estou certo de que é assaz poderoso para guardar meu depósito até aquele dia. Toma por modelo os ensinamentos salutares que recebeste de mim sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Guarda o precioso depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós” (II Tm 1, 12-14).
Que a Liturgia deste domingo nos ajude a amar o que modelou a vida, a missão e a páscoa dos Apóstolos Pedro e Paulo.
+ Dom Carlos Romulo – Bispo diocesano de Montenegro