Tradicionalmente a Igreja Católica dedica o mês de setembro, como mês da Bíblia. O que significa isso? Por que ter um mês com um tema, como o “mês da Bíblia”?
O cristianismo, herdando da tradição judaica, tem como fundamento da sua experiência religiosa, a Palavra. Os cristãos encontram na Bíblia as Escrituras Sagradas do judaísmo e da origem do cristianismo. Estas Escrituras Sagradas, acolhidas com fé, comunitariamente ou pessoalmente é Palavra de Deus que continua a história da salvação.
O mês de setembro foi escolhido, pois no calendário da Igreja, no dia 30 celebramos a memória de São Jerônimo, grande estudioso e tradutor da Sagrada Escritura para a língua falada no seu tempo, que era o latim. São Jerônimo morreu no ano de 420 d.C. Portanto, o mês da Bíblia quer provocar nos cristãos o mesmo desejo de tradução da Sagrada Escritura para a vida do nosso povo. Mesmo que tenhamos muitas traduções na língua portuguesa, ainda continuamos precisando traduzir as Sagradas Escrituras para a Palavra de Deus seja vida na vida da gente.
A Bíblia é a coleção dos livros sagrados, que hoje formam o Antigo e o Novo Testamento. Palavra Deus é a relação de fé que estabelecemos com Deus, ao ler, ao escutar, ao acolher como Palavra, o que está escrito nas Sagradas Escrituras.
Partindo da Bíblia, das Sagradas Escrituras, chegamos então na Palavra. Toda espiritualidade, toda pastoral e toda missão dos cristãos, partem da escuta e da proclamação da Palavra. O Apóstolo Paulo nos faz uma síntese da relação fé e Palavra de Deus: “Logo, a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo” (Rm 10,17). Mesmo a celebração dos Sacramentos se dá a partir da proclamação e escuta atenta da Palavra. Os Sacramentos na Igreja não são atos mágicos, mas ação da graça de Deus, que se realiza, pela ação do Espírito Santo a partir da proclamação da Palavra de Deus.
A Encarnação do Verbo de Deus, que dá início o Novo Testamento, se dá com a adesão da Virgem Maria ao Plano de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38).
Toda a missão publica de Jesus se dá a partir de sua Palavra e ações que revelam o Reino de Deus no meio do seu povo. A adesão ao Plano de Deus no coração dos apóstolos se dá com esta exclamação de Pedro: “A quem iremos Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).
A comunidade dos cristãos é construída como uma família, não com laços sanguíneos, mas de obediência à Palavra de Deus: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21). A conversão de Pedro começa com a aceitação fundamental da Palavra de Cristo: “Simão respondeu-lhe: ‘Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos; mas, por causa de tua palavra, lançarei a rede’” (Lc 5,5).
Portanto, a relação fundamental que os cristãos têm com a Bíblia, é, em cada época da história, escutar de novo a Palavra de Deus e proclamá-la, com a vida, com o testemunho e também com a pregação: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15).
Que este mês de setembro, mês da Bíblia nos ajude mais uma vez a descobrir o tesouro das Sagradas Escrituras, e nelas encontrar a Palavra de Deus que nos cria e recria “à imagem e semelhança de Deus”.
Deus vos abençoe e vos guarde sempre!
Dom Carlos Romulo – Bispo Diocesano de Montenegro.